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Além de divulgar meu trabalho como psicólogo, quero compartilhar com você neste espaço, diversos materiais relacionados à psicologia, como: artigos, opiniões, fóruns, links, livros, filmes, entre outros.
Espero que este blog seja relevante para seus interesses.
Aguardo seu contato.

Luis C. Pontes
CRP 08/17138

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fone de ouvido

Você já se deu conta da quantidade de pessoas, sejam nas ruas, nos ônibus, que estão usando fone de ouvido?
Confesso que, embora pareça absolutamente natural, e, não seja novidade, tal fato tem me levado a pensar. O número de fones de ouvido reflete tão somente o progresso tecnológico? Trata-se de uma geração apaixonadíssima por música e que não vive sem a mesma? Ou, será que o barulho do "mundo" está tão insuportável assim?
Bem, é impossível se esconder da tecnologia, ela está aí no seu computador, esta aqui neste blog. Embora o ponto zero do MP3 tenha surgido no final da década de 80, realmente a sua explosão se deu através do Napster. Assim como a música foi comprimida, de certa forma, todos os players também. Imagine que não seria muito confortável andar nas ruas ouvindo seu vinil através de um fone de ouvido rs. Mini System, Walkman, Discman ficaram há muito pra trás, em 1997 foi criado um primeiro aparelho capaz de rodar musicas no formato MP3. Bom, com o genial lançamento do Ipod em 2001, Steve Jobs e sua lucrativa Apple fizeram o portátil player ir parar no bolso do papa e de milhares de pessoas espalhadas pela terra. No entanto, Iphone, Smartphone ou os "simples" celulares que tocam mp3 estão nas mãos de quase todo mundo, crianças, jovens, idosos, ou seja, na palma da mão podemos ter o "mundo musical" e, melhor, personalizado, só pra nós.
Certo, deixando essa chatice histórica, o fato é que você tem um aparelhinho suficientemente pequeno, onde cabem suas músicas, gravações, vídeos, etc., e, você praticamente pode entrar nele ou ele em sua cabeça, tanto faz. O cordão umbilical é o fone de ouvido. Alias, há fones de todos os modelos, cores, tamanhos, fones bluetooth (estou louco pra comprar um desses).
Quanto tempo você passa por dia com seu fone de ouvido? Para onde você o leva? O que o faz ser tão imprescindível?
É óbvio que aquela multidão a andar pelas ruas, a se amontoar dentro dos ônibus, estão ouvindo algo através dos seus fones de ouvido, e, talvez não seja tão claro, mas, todas elas estão deixando de ouvir outros sons, agradáveis ou não.
Um dia desses, eu quis perguntar a um sujeito acerca de um itinerário de ônibus, porém, confesso que fiquei constrangido ao perceber que ele estava com um fone de ouvido gigante e imponente, fiquei então sem jeito de incomodá-lo, de interrompê-lo, de desconectá-lo do seu "mundo". Mas, o pior mesmo é quando o cobrador de ônibus é que está com fone de ouvido, e, eu sei que ele é o cara mais indicado pra me dizer em que ponto devo descer.
Não vai demorar muito pra recebermos em nossos consultórios pessoas com algumas reclamações do tipo:
- Como posso discutir nossa relação se meu cônjuge não tira aquele maldito fone de ouvido?
- Tento conversar com meus filhos, mas eles sempre dão a desculpa que não conseguem ouvir por causa do fone de ouvido.
Será que queremos muito ouvir aquelas músicas o dia todo, ou, na verdade, apenas não queremos ouvir alguns sons que nos incomodam. Sim, como a voz daquelas mulheres que falam dos problemas com os maridos, das aventuras de educar os filhos. Aquele sujeito que tenta dizer ao amigo que se senti bastante triste desde que sua esposa o deixou.
Sejamos francos, conseguir um lugar para sentarmos no ônibus, aumentarmos o volume do som, nos dá uma sensação incrível, nos transporta para qualquer lugar longe daquele falatório. Do outro lado da moeda, como nos sentimos quando temos vontade e mesmo necessidade de falarmos com alguém? Sei lá, precisamos falar com alguém, só isso, mas acontece que elas estão com seus fones de ouvido e, apesar de termos o nosso também, ele não é capaz de nos entender de fato, ele é excelente para nos distrair, nós o ouvimos, mas ele não nos ouve, a mão é única, ele nos traz conteúdos, mas não tá nem aí com o nosso conteúdo.
Pensando assim, ninguém pode depender apenas do seu fone de ouvido, do contrário, nos tornamos incapazes de falar e de ouvir outros sons. E, sabem, no final das contas, o som que queremos menos ouvir não são dos carros, das buzinas, são o som que saem das palavras das pessoas que nos cercam. Este tipo de som quase sempre nos incomoda e quase nunca nos interessa, afinal, o que de fato as pessoas têm a dizer que pode me servir pra alguma coisa?
Não há dúvida, curtirmos bem mais falar do que ouvir.
Há poucos dias eu saí pra lanchar com um amigo, e, apesar de minha natural disposição para ouvir pessoas, seus problemas, seus conflitos, enfim, ouvi-las, confesso que me deu vontade de botar meu fone de ouvido, não pelo tipo de demanda, mas, pela incapacidade da outra pessoa em me ouvir, falar dela e de suas coisas se mostrou infinitamente mais importante do que me ouvir, ouvir meu nome completo, ouvir meus planos, ouvir sobre as dificuldades do meu trabalho.
Quase todos querem ou necessitam de uma escuta, entretanto, pouquíssimos estão dispostos a serem escuta, ainda mais porque um bom e velho fone de ouvido pode protegê-los contra as vozes, não contra as vozes ouvidas por psicóticos e esquizofrênicos, mas, sim pelas vozes reais, do cotidiano, das absolutamente audíveis, aflitas ou não.
Sinceramente, as pessoas em sua maioria não querem nem mesmo se ouvirem. Caminham e correm nos parques e são incapazes de ouvir seus batimentos cardíacos, sua respiração, o som da natureza, seus próprios pensamentos, antes, estão plugadas em seus fones de ouvido, entretidos, alienados muitas vezes por algo que nem mesmo entendem ou que nem mesmo lhes interessam, apenas os distrai, os protege dos demais "estressantes" sons.
Fazendo um paralelo com um escritor antigo que indagava: - Como poderão crer se não ouvirem a mensagem, e como poderão ouvir a mensagem se não houver ninguém para falar, posso perguntar: Como as pessoas falarão dos seus problemas se não há ninguém para ouvi-las, e como as pessoas conseguirão ouvir se as pessoas não falarem porque ambos estão com seus fones de ouvido?
As pessoas precisam ser ouvidas, nós precisamos ouvir a nós mesmos, nosso coração, portanto, que tal tirarmos nossos fones de ouvido de vez em quando?
Por fim, poderemos nos ajudar muito se nos escutarmos um pouco mais, ainda que nos incomode um pouco e que os sons ouvidos não sejam tão agradáveis quanto àqueles dos nossos Ipod`s.
Então, experimente tirar um pouco seu fone de ouvido hoje.
Abraços